domingo, 20 de dezembro de 2009
Manual de Instruções - Teatro Principal - Santiago de Compostela
12 de Dezembro
Teatro Principal
Rúa Nova, 21 - Santiago de Compostela
0034 981 542 349 (despacho de billetes)
21h00
Direcção artística, Coreografia e Cenografia Victor Hugo Pontes
Sonoplastia Rui Lima e Sérgio Martins
Desenho de Luz Wilma Moutinho
Apoio dramatúrgico Madalena Alfaia
Interpretação Elisabete Magalhães, Manuel Sá Pessoa e Tiago Barbosa / Borja Salgado, Carlos A. Vidal Puga, Casimiro Aguza, Daniel Baamonde, David Pérez González, Esther Uroz Segura, Fátima Bermejo Rubio, Francisco Martínez Buceta, Miguel Gendre, Raquel Nogueira Basalo, Roberto Leal, Rosalía Pichel Garrido
Figurinos (styling) Osvaldo Martins
Registo Fotográfico Susana Neves
Registo Vídeo Eva Ângelo
Produção Executiva Joana Ventura e Mafalda Couto Soares
Produção Núcleo de Experimentação Coreográfica
Co-produção O espaço do tempo, Centro Cultural Vila Flor
Apoios Fundação Calouste Gulbenkian- Programa de Apoio à Dança, CENTA, Balleteatro Auditório, Teatro Aveirense, DeVIR/ CAPA, Trigo Limpo Teatro ACERT, Fórum Dança, Radar 360º.
Projecto Financiado pelo MC/ DGArtes
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Teatro Aveirese apresenta “Manual de instruções", Diário de Aveiro, Carla Real
Elenco do espectáculo integra pessoas, algumas aveirenses, cujo percurso profissional nunca passou pela dança
Victor Hugo Pontes, formado em Belas-Artes e coreógrafo, apresenta, esta noite, pelas 21.30 horas, no Teatro Aveirense, o espectáculo “Manual de Instruções”.
A participar estará uma equipa de 15 pessoas, três das quais elementos fixos do projecto: Elisabete Magalhães, Tiago Barbosa e Manuel Sá Pessoa, que servem de referência aos outros. Os restantes elementos são pessoas sem experiência de palco, seleccionados previamente, através de uma simples ficha de inscrição, e que integraram um workshop, metade das quais da região de Aveiro. “Procurei um grupo com diferentes vivências, aparência e faixas etárias, para participar neste processo criativo que fala, sobretudo, da solidão”, explica Victor Pontes, acrescentando que, o que se pretende é “mostrar o comportamento humano na privacidade, os gestos quotidianos e a acumulação de memórias que compõem as vidas de cada indivíduo; e quero provar que qualquer pessoa é capaz de o fazer”.
Entre os 16 e os 40 anos são as idades dos participantes no espectáculo de Aveiro, mas o coreógrafo afirma já ter tido pessoas de 65 anos. Esta noite, o público poderá assistir á actuação de pessoas cujo percurso profissional nunca se havia cruzado com a dança. Lojistas, músicos, arquitectos, biólogos e até uma funcionária da Câmara Municipal integram este elenco. “Quero testar até que ponto a vida pode ser um espectáculo!”, afirma o profissional, a peça começa por ser muito coreográfica e abstracta e acaba de uma forma muito concreta, com as tais acções do dia-a-dia; os participantes mostram pessoas dentro de casa, a fazer acções íntimas e privadas como se ninguém estivesse a vê-las”.
Diário de Aveiro
18 de Julho de 2009 Sábado
página 6
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Manual de Instruções no Teatro Aveirense
sexta-feira, 3 de julho de 2009
PARTICIPANTES Teatro Aveirense
© Susana Neves
Victor Hugo Pontes irá apresentar Manual de Instruções no Teatro Aveirense, no dia 18 de Julho.
Para isso reúne uma equipa de 15 pessoas das quais 3 são elementos fixos do projecto, e selecciona, em cada local de apresentação, 12 pessoas interessadas em participar nesta iniciativa, mediante incrição prévia no workshop a realizar para o efeito.
A selecção das pessoas a integrar o espectáculo será feita a partir da informação enviada na inscrição. Procura-se um grupo com diferentes vivências e faixas etárias.
Datas do workshop 16 e 17 Julho (quinta e sexta)
Horário do Workshop 14h30 - 18h / 20h30 - 24h
Ensaio geral dia 18 de Julho, 14h30 - 18h
Apresentação dia 18 Julho, 21h30 no Teatro Aveirense, Aveiro
Local Sala Principal - Teatro Aveirense - Aveiro
Data limite de inscrição dia 13 de Julho
Workshop direccionado para jovens e adultos a partir dos 16 anos, com ou sem experiência performática.
Informações e Inscrições
Teatro Aveirense
A/c Ágata Marques Fino
Rua Belém do Pará, 3810-066 Aveiro
Telefone: 234 400 920
E-mail: producao@teatroaveirense.pt
Dados a enviar: nome, morada, telefone, e-mail, idade e profissão. No caso de ter experiência performativa, por favor referenciar.
Como é que os indivíduos se relacionam com o espaço que habitam? Qual o lugar ocupado pelos outros no espaço em que vivemos? Quantos momentos de verdadeiro encontro ocorrem ao longo da vida? O que se faz quando se ocupa um espaço privado, sabendo-se que (não) se está a ser observado? O que acontece quando se vive em isolamento? Pode o corpo transformar-se em natureza morta? Será que a solidão se transveste do ser solitário?
Quinze pessoas executam acções autónomas. Partilham acções autónomas e acabam por se aperceber – intuitiva ou conscientemente – de que a acção própria depende da acção alheia. A presença do público, ora voyeur ora testemunha, é activamente considerada, mas a analogia com os reality shows termina onde termina também a pertinência das respostas sociológicas. O que se pretende é mostrar o comportamento humano na privacidade, naturalmente dependente de outros sujeitos, mas enredado numa solidão fundamental. O que é que explica a necessidade e exigência de viver em comunidade, quando esta se alicerça em percursos individuais e solitários?
domingo, 26 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Obrigado a todos os participantes
Fotos Catarina Falcão
A equipa do Manual de Instruções agradece a todos os intérpretes que participaram na apresentação do espectáculo no Cine-Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo: Alberta Lemos, Ana Marta, Ana Silvestre, Ana Sofia Santos, Carlos Lopes, Joana Duarte, Maria da Conceição Gomes Pires, Maria João Rodrigues, Paulo Pelixo, Sara Correia, Sónia Silva Ferreira, Vanda Rodrigues.
sábado, 11 de abril de 2009
Plataforma Portuguesa de Artes Performativas
sexta-feira, 13 de março de 2009
sábado, 21 de fevereiro de 2009
O Sr. do Olá
- Chamam-lhe o Senhor do Adeus, mas é o Senhor do Olá. Aquele que acena no Saldanha a partir da meia-noite. Sr. João Manuel Serra, tudo isto é solidão?
- Essa senhora é uma malvada, que me persegue pelas paredes vazias de casa. É para lhe escapar que venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente.
- Como noutros tempos?
- Como noutros tempos, que nem quando a minha mãe era viva e a vida soava a festa. Sabe, eu sou da idade em que os senhores usavam chapéu. No cinema era um horror, nós a querermos ver os amores e a elegância, aquela elegância toda a turvar-nos a vista.
- As senhoras falavam francês, tocavam piano...
- Oh, era maravilhoso! Era maravilhoso! Eu vi a Ginger Rogers na Broadway, o Aznavour no Moulin Rouge. Também vi a miséria na URSS, na União Soviética, e a «fiesta», a «fiesta» de Madrid…
- São quase duas da manhã e os carros não param de lhe apitar.
- Nem eu de lhes acenar. Só fico triste quando o movimento acaba e a rua fica vazia.
- Desde quando este passeio é a sua casa?
- Venho para esta praça desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. Começou por acaso… Eu andava pela rua, a espantar a madrugada, e as pessoas começaram a acenar-me. Respondi, correspondi – e agora é isto a minha vida. Tenho algo de vampiro – à noite não durmo, prefiro vaguear. Quando passa um carro antigo, lembro-me do meu pai. No tempo em que ter carro era um luxo raro, ele tinha um Dodge muito chique. Ainda bem que eu era novo, nessa altura. Se fosse velho, seria triste – sem carros, a quem acenaria?
- Quem lhe buzina mais?
-Toda a gente. Antes a diferença era entre Verão e Inverno, agora estamos na estação da crise. As pessoas rendem-se à bolsa vazia e ficam mais em casa.
- O mundo tem mudado bastante?
-Sim! Sim! É uma coisa fantástica! Até o cinema, que trocou a pieguice pela tecnologia. Oh, o que chorei a ver «E Tudo o Vento Levou»! Não imagina. Eu vivi de facto os grandes momentos do século passado: o lançamento da bomba atómica, a queda do muro de Berlim, a ida do homen à Lua.
-Viu pela televisão?
- Houve quem duvidasse, eu acreditei logo. Mas estou decepcionado, dizia-se que em 2000 já haveria viagens interplanetárias. Ora, eu tenho fintado bem a morte, mas começo a acreditar que é viagem que só farei de pálpebras cerradas e imaginação aberta.
- Iria acenar para Marte?
- Se lá houvesse carros e pessoas a quem acenar, e essa senhora malvada, que dá pela graça de solidão.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Fotos - ESTREIA - CCVF
Fotos Bastidores - Manual de Instruções - CCVF
Pedro Rodrigues, Rita Morais, Teresa Santos, Ana Caridade, Alexandre Cunha de Sá, Joana Antunes, Victor Hugo Pontes, Alexandrino Silva, Domingos Freitas Pereira, Filipe Costa, Zizina Moreira, Manuel Sá Pessoa e Tiago Barbosa
Victor Hugo Pontes
Zizina Moreira e Joana Antunes
Ana Caridade, Joana Antunes e Osvaldo Martins
Ângela Faria, Osvaldo Martins e Victor Hugo Pontes
Fotografias - Susana Neves
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
sábado, 31 de janeiro de 2009
«Elogio da evidência», Tiago Bartolomeu Costa, Jornal Público
Crítica de Dança
Manual de Instruções
De Victor Hugo Pontes
Centro Cultural Vila Flor, Guimarães
24 Janeiro, 22h
Esgotado
Victor Hugo Pontes tem, ao longo do seu percurso, persistido (ou perseguido) numa filosofia de composição cénica que, utilizando conceitos próprios da fotografia, navega ao largo do teatro e da dança, criando assim uma massa performática moldável e intrigante. Espectáculos como Laboratório (2005), Ícones (2006, a partir de um excerto do anterior), Fotomontagem e Ensaio (ambos de 2007) sedimentaram as bases de uma pesquisa sobre a relação entre a imagem e a representação. Mas os dispositivos que cria, especulativos e de diagnóstico em vez de afirmativos e autorais, tendem a originar uma dolência que contraria as potencialidades de um diálogo eminentemente complementar.
Não é que estas reflexões tivessem que ser novas ou originais, mas havia uma pesquisa, certamente deambulatória, que apontava para uma atenção às fragilidades da composição performática. Nomeadamente o duelo entre a sua inerente efemeridade e a capacidade de evasão proporcionada pela fixação de uma imagem. Recuperando uma frase de Ensaio, retrospectivamente o seu melhor espectáculo, «as imagens despoletam também mecanismos de dedução especulação e fantasia». Ao chamar a si a herança da ensaísta norte-americana Susan Sontag parecia redimensionar a composição figurativa, delimitando o campo de acção teórico e accionando mecanismos de representação que se serviam dessa teoria em vez de estarem ao seu serviço.
Com Manual de Instruções ficamos na dúvida de saber se Victor Hugo Pontes deu um tímido passo na exploração dessa aparente solução dramatúrgica, ou se se encontra num impasse discursivo que deita por terra a capacidade que tem de trabalhar a partir do poder especulativo do olhar.
Dividido em três longos planos-sequência, que combinan as fragilidades e os riscos do seu percurso, o autor desbarata um conjunto de oportunidades para ir mais além da disposição espacial de corpos mergulhados na solidão, da construção de imagens vãs e quotidianas e das micro-narrativas facilmente identificáveis. O jogo que propõe - primeiro com três intérpretes (Elisabete Magalhães, Manuel Sá Pessoa, Tiago Barbosa), que gerem uma demasiado lúdica e anedótica desmontagem do movimento, depois com os dozes participantes locais a serem utilizados para a instalação de um território que acentua o estafado discurso sobre o isolamento no colectivo, por fim (a sequência mais interessante e que merecia ser mais aprofundada) criando um mapa abstracto a partir da acumulação de corpos e objectos no mesmo território -, acusa a ambição de criar um ensaio visual sob a forma de puzzle que deve ser gerido de acordo com as possibilidades de projecção do espectador.
Apesar das ambiências criadas pela banda sonora exemplar (Rui Lima e Sérgio Martins), com particular destaque para a interpretação masoquista de All by myself, pelo desenho de luz assertivo e irrepreensível (Wilma Moutinho), pelos figurinos estrategicamente casuais (Osvaldo Martins) e pela cenografia (do coreógrafo) que, com a sua longa parede forrada num papel delirantemente kitsch, acentua a claustrofobia da cena - traduzida mais tarde na colocação de plásticos em todos os adereços domésticos -, Manual de Instruções nunca ultrapassa os tiques de uma certa discursividade coreográfica que criticando as sociedades urbanas e contemporâneas incorre no erro de replicação de lugares comuns.
30.01.09, P2 - Jornal Público
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
O que fazer quando a vida parece igual à arte?
Para chegar ao formato de Manual de Instruções, Victor Hugo Pontes limitou-se a seguir este percurso. O formato é complexo apenas na medida em que se constrói com doze intérpretes ao longo de poucos dias (para além dos três intérpretes «profissionais» que já conhecem o roteiro). De resto, Manual de Instruções é tão simples, previsível e inquietante como a rotina quotidiana. Apresenta problemas suspensos de si mesmos, sem respostas à vista. Trabalha com materiais e pessoas comuns, sem sofisticações filosóficas. Deixa cair máscara após máscara, mito após mito, defesa após defesa. Baixa os braços perante a tentação da beleza, do aperfeiçoamento e da superioridade mimética que a arte representa. Sucumbe à suficiente complexidade da vida comum.
A experiência de trabalhar novamente com Victor Hugo Pontes, em Manual de Instruções, foi como uma aprendizagem ao contrário. Foi preciso regredir no percurso que conduz da vida à arte, para se perceber que a força propriamente artística do projecto residiria, como aconteceu, na sua circunstância e natureza: autor, intérpretes, público. Um palco e a vida toda lá dentro.
Madalena Alfaia
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
«Vamos Fazer Um Espectáculo», João Carneiro, Jornal Expresso
Primeiro, a ideia era fazer um espectáculo em torno de questões de identidade, e da relação entre sujeitos individuais e vida em conjunto. A passagem do tempo - cerca de um ano - alterou ligeiramente essa ideia, e transformou-a em questões sobre a relação entre os indivíduos e o espaço. Umas vezes o espaço é privado, outras é público. Mas umas vezes o espaço privado adquire uma dimensão pública, por mil razões diversas; pode ser que a pessoa se queira expor, e expor a sua intimidade. Pode ser que a sua intimidade seja devassada e exposta; pode ser que a exposição seja inevitável, ou pode ser que seja tudo ao mesmo tempo. E pode ser que a ideia tenha a ver com uma velha questão: como é que do espaço privado se passa a um regime de exposição pública? Como é que a vida real se transforma em livro, filme, ópera, quadro, vídeo, instalação, performance, espectáculo?
Manual de Instruções procura dar a ver esta questão. Victor Hugo Pontes, o autor do espectáculo, trabalhou com a sua cúmplice em dramaturgia, Madalena Alfaia, para organizar conceitos e descrever problemas. Fez workshops pelo país fora, sempre com três intérpretes fixos - dois actores e uma bailarina - e um grupo de não profissionais. A ideia final é a de que, depois de uma exposição inicial de acções pelos dois actores e pela bailarina - Manuel Sá Pessoa, Tiago Barbosa e Elisabete Magalhães -, cada um dos outros intervenientes, 12, traga para o espaço de representação um objecto de uso quotidiano, que o utilize, o manipule, que seja com ele um ser actuante. Cada um dos intervenientes tenta ignorar os outros, age como se estivesse sozinho, em sua casa, no seu espaço, sem que ninguém o visse. Como se trata de um espectáculo, o público está lá a observar tudo, e a baralhar as pistas.
Em 2007, Victor Hugo Pontes apresentou na Gulbenkian Ensaio, concebido a partir de texto de Susan Sontag sobre fotografia. Manual de Instruções é um espectáculo sem palavras, eminentemente coreográfico, embora não necessariamente um espectáculo de dança. E procura reagir a questões importantes dando-lhes uma formulação possível, uma vez que as respostas estão reservadas, geralmente, à bola de cristal e à observação do sangue de galinhas degoladas em noites de lua cheia.
24.01.09, Revista Actual - Jornal Expresso
domingo, 25 de janeiro de 2009
«Sozinhos em Casa», Inês Nadais, Jornal Público
Um ano depois das primeiras experiências em laboratório, o Manual de Instruções de Victor Hugo Pontes tem estreia amanhã, em Guimarães
Elisabete Magalhães, Manuel Sá Pessoa e Tiago Barbosa estão sozinhos em casa (mas sozinhos todos juntos, e ainda há mais 12 pessoas) neste Manual de Instruções que Victor Hugo Pontes (o homem que fica à porta e que, quando entra, se confunde com o papel de parede) estreia amanhã à noite no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), Guimarães. Também está em casa, ele - a trabalhar, finalmente com apoio financeiro do Instituto das Artes, na cidade onde cresceu, com algumas das pessoas com quem cresceu (incluindo o pai e alguns amigos dos primeiros anos da companhia de teatro Oficina, agora estrutura residente do CCVF).
É uma coisa que podia estar escrita: ele não fala de outra coisa e este Manual de Instruções também não. «Quis que isto funcionasse como uma sobreposição de instruções, como se a vida estivesse escrita num manual de fácil consulta. Às vezes as folhas rasgam-se, às vezes passamos algumas páginas à frente, às vezes as palavras ficam esborratadas porque apanharam chuva, mas é como se as coisas acontecessem porque tinham de acontecer», diz.
O Manual de Instruções está escrito assim: Victor Hugo Pontes chega com a equipa fixa, a mobília e os figurinos, faz uma audição para escolher os 12 intérpretes locais, e depois passa dois dias a dar-lhes instruções sobre o que fazer quando estiverem sozinhos em casa. «A peça começa por ser muito abstracta para depois se tornar numa coisa completamente concreta, que é uma acumulação de gestos quotidianos coreografados. Basicamente, disse a estas 15 pessoas - 16, comigo - para habitarem o espaço como se estivessem sozinhas», explica. Demorou um ano a encontrar o lugar certo para a mobília: «O Manual de Instruções resulta da vontade que tinha de fazer uma peça com muita gente. Como inicialmente não tinha dinheiro para fazer nem com muita, nem com pouca, comecei por fazer laboratórios gratuitos em vários locais do país, em que em dois dias montávamos histórias a partir dos temas e das influências que eu levava.» É aqui que Nan Goldin e Céline Dion começam a dividir casa: «A visão que a Nan Goldin tem da vida privada e da intimidade era uma das coisas com que queria trabalhar, porque me interessam estes gestos sem espectacularidade, sem encenação. E outra grande influência é o All by myself', que a maioria das pessoas conhece da versão da Céline Dion e que aqui explica mais ou menos a situação destas pessoas.»
A primeira apresentação informal, no Porto, foi tão ao lado e tinha tantos «equívocos» que Victor Hugo Pontes percebeu que «tinha de ter pelo menos três intérpretes fixos que fossem os pilares da peça» (as outras pessoas têm dois dias para aprender o manual de instruções e para o executar). Trabalhou com Elisabete Magalhães, Manuel Sá Pessoa e Tiago Barbosa mais intensivamente, no contexto de duas residências de criação - no Centa, em Vila Velha de Ródão, e no Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo - e depois instalou-se em Guimarães para escolher mais 12 ocupantes para esta casa. «Queria trabalhar com gente de várias faixas etárias e com diferentes graus de formação artística, incluindo gente sem formação artística. Já que queria falar de pessoas, interessava-me ter pessoas, e não representações. Em Montemor-o-Novo apareceram cinco na audição. Aqui tive 60 e foi mesmo muito difícil escolher porque eram todas tão genuínas, e expuseram-se tanto, que me apetecia não prescindir de nenhuma. Decidi ter um convidado, o meu pai, e depois diversificar as idades, para não ficar com uma coisa tipo residência universitária.»
Ficou com uma casa igual às outras - com electrodomésticos, plantas, móveis Ikea, papel de parede, sacos de compras e pessoas em frente à televisão. Ele é o homem que chega no fim, para embalar a mobília (e as pessoas, porque as pessoas já fazem parte da mobília), mas não é para se desfazer dela - é para mudar de casa.
sábado, 24 de janeiro de 2009
OBRIGADO A TODOS OS PARTICIPANTES
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Inside «Manual de Instruções»
Colocar este tipo de questões ao longo de um processo criativo é uma prática comum que visa cumprir objectivos específicos. Menos habitual será transformar as questões naquilo que o espectáculo efectivamente é. Em Manual de Instruções, o percurso dos intérpretes em palco poderia descrever-se como o percurso ao longo do qual se toma consciência do lugar ocupado no mundo, que equivale ao percurso em que cada um se torna naquilo que é. A peça é um roteiro mental deste processo, revelado através de um roteiro coreográfico.
Em Manual de Instruções, Victor Hugo Pontes pretende mostrar sobretudo o que pode ser a solidão e desafia-nos a encararmos o espelho e a querermos fugir dele. (Será a solidão uma roupa que se escolhe?) Se às vezes os indivíduos não se distinguem do espaço que habitam, outras vezes o espaço deixa de existir, restando somente o indivíduo. A partilha é uma hipótese suspensa, porque somos tão portáteis como os móveis da casa onde vivemos. Não há verdadeira intimidade, há verdadeira solidão, e todos acabamos por nos tornar naquilo que somos.
Madalena Alfaia
ESTREIA - «MANUAL DE INSTRUÇÕES»
Direcção artística, Coreografia e Cenografia Victor Hugo Pontes
Sonoplastia Rui Lima e Sérgio Martins
Desenho de luz Wilma Moutinho
Apoio dramatúrgico Madalena Alfaia
Interpretação Elisabete Magalhães, Manuel Sá Pessoa e Tiago Barbosa / Alexandre Cunha de Sá, Alexandrino Silva, Ana Caridade, Domingos Pereira, Filipe Costa, Joana Antunes, Maria Ângela Faria, Miguel Cunha, Pedro Rodrigues, Rita Morais, Teresa Santos, Zizina Moreira
Figurinos (styling) Osvaldo Martins
Registo fotográfico Susana Neves
Registo vídeo Eva Ângelo
Produção executiva Joana Ventura e Mafalda Couto Soares
Produção Núcleo de Experimentação Coreográfica
Co-produção O espaço do tempo, Centro Cultural Vila Flor
Apoios Fundação Calouste Gulbenkian, CENTA, Balleteatro Auditório, Teatro Aveirense, DeVIR/ CAPA, Trigo Limpo Teatro ACERT, Radar 360º, Festival da Fábrica, Fórum Dança
Projecto Financiado pelo MC/ DGArtes