terça-feira, 18 de novembro de 2008

Televisão


«Pode ser acaso, mas é simbólico que o último "caso" da televisão portuguesa tenha a ver com um programa que utiliza um polígrafo. À semelhança da TV, o polígrafo é um sistema engenhoso, tendencialmente certeiro, inegavelmente falível. Em "Momento da Verdade" – um formato da Fox Americana, por sua vez inspirado num modelo colombiano – concorrentes respondem a perguntas de natureza íntima. Um polígrafo determina se estão a falar verdade e, conforme o resultado, são aprovados ou eliminados. Não têm direito de recurso. Se o programa lhes estragar a vida, azar. Televisão é performance, e ninguém no seu perfeito juízo aposta a carreira ou o casamento em factores suerficiais que não controla.
Apresentado na SIC, o "Momento da Verdade" encarna várias tendências contemporâneas. Exposição da vida privada a troco de aparecer na TV. Melhoria (ou não) da situação pessoal à conta disso. Pelo lado dos canais, um programa que se alimenta de gente comum, da vida alheia, do embaraço, eventualmente da humilhação. Não há aí lugar para a inocência, e acredita-se pouco nela. Há dez anos que o filão "realidade" é explorado numa pletora de programas, desde concursos ao "Big Brother" e aos formatos com testes extremos de endurance.»

Revista Única – Jornal Expresso – 15 de Novembro de 2008

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